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Sem indenização, família afetada por rompimento da barragem Nasa Park faz galinhada ‘para custear o básico’

Galinhada custará R$ 25 e ajudará no pagamento de contas, mercado e gasolina

Casa da família de Gabriele afetada pelo rompimento da barragem do Nasa Park (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Quase quatro meses após o rompimento da barragem Nasa Park, em Jaraguari, as famílias afetadas seguem sem respostas ou qualquer assistência. Sem esperança de que a indenização virá em breve, quem viu todos os bens submergir naquela manhã de 20 de agosto, luta como pode para conseguir viver, minimamente, com dignidade.

Gabrielle do Prado Lopes é uma das moradoras afetadas. Após perder suas plantações e animais, antes responsáveis pela renda da família, agora, realiza rifas e galinhadas na tentativa de quitar as contas básicas de casa que não param de acumular.

“No começo a gente ganhou o sacolão do MP, do Cras, e também alguns colchonetes. Depois disso, fomos fazendo dívidas. Na chácara, saí da casa da frente para que meus pais, meu irmão e meu filho especial pudessem morar, e vim pra cidade com meu marido e filhas. Estamos em uma kitnet, dormimos nós cinco no mesmo quarto, nos dividindo em duas camas. São as contas da casa e da chácara para arcar, pago R$ 1450 só de aluguel, tenho duas contas de energia pra pagar, tem comida, gás. Meu marido está trabalhando, mas ele não ganha muito. Tentei emprego em um atacadista, mas para trabalhar, teria que pagar uma babá. Nisso já iria meu salário. Está bem difícil”, lamenta.

“Me sinto humilhada”, afirma Gabrielle

Em desabafo, é assim que Gabrielle diz se sentir: humilhada. Cansada, suas palavras escancaram a dor de alguém que teve a rotina interrompida por uma tragédia minimizada por aqueles que deveriam ajudar.

“O responsável acha que estamos querendo ficar ricos nas custas dele. O cara não tem noção que sempre trabalhamos, nunca pegamos nada dos outros. Chegamos nessas terras muito antes dele. Quando construíram a barragem, ninguém se preocupou com as propriedades que ficavam embaixo”, afirma.

“Falar que não aceitamos ajuda de sacolão é fácil, ele acha que a gente só come arroz e feijão. Isso chega a ser falta de respeito. Perdemos nossos animais, nossa produção de mandioca, de milho. Não tirávamos muita coisa, era uns R$ 3 mil por mês, mas era nosso trabalho, o que sempre fizemos. Ninguém tem noção do que a gente tá passando não, é humilhante”, acrescenta.

Um fim de ano diferente

Para a família de Gabrielle – e tantas outras afetadas – este Natal será diferente. Sem estabilidade financeira, com o emocional abalado e o amargo da injustiça, comemorar as festividades do fim de ano não será como antes. Conforme a moradora, dói ouvir a filha pedir uma árvore de Natal para decorar, quando a que a família tinha está soterrada em lama, em algum lugar da casa.

“As crianças queriam montar a árvore de Natal, mas a nossa estava na casa da minha mãe, que foi tomada pela lama. Nem isso sobrou. E eu não posso me dar o luxo de falar que vou comprar árvore, bolinha, luzinha, porque vai dar uns 150 reais. Esse dinheiro podem fazer falta no combustível, pode fazer falta na mistura, pode fazer falta no remédio”, lamenta.

Para conseguir uma renda extra, a família voltou a plantar alguns vegetais na área que a água não passou. É pouco ainda, mas qualquer real, neste momento, faz total diferença para eles.

“Meu guri fez aqui pra cima uma hortinha. Estamos vendendo abobrinha, maxixe, berinjela, jiló, umas coisinhas poucas, mais pra tirar uns R$ 50 aqui R$ 20 ali, sabe?! Só pra tentar suprir o básico que é uma mistura, que é um combustível, que é um remédio. E esse povo achando que está fazendo um favor dando sacolão pra gente”.

Galinhada

É graças a um empréstimo de cartão de crédito, feito por uma amiga, que Gabrielle conseguiu comprar os insumos para preparar as galinhadas. O valor arrecadado ajudará na compra de móveis, de itens de extrema necessidade e no pagamento de contas básicas, incluindo gasolina, já que Gabrielle precisa ir e vir da chácara diariamente.

“Além da galinhada, estamos vendendo uma rifa também, mas a gente não conhece muita gente pra oferecer, né? Sempre moramos no sítio e não temos aqueles ciclos de amizades grandes, por isso não vendemos muitas. Mas a gente vai tentando um jeito aqui, um jeito ali”, pontua.

Conforme ela, no dia 21 de dezembro haverá dois pontos de retirada dos pratos, um marmitex nº 9: o condomínio onde ela mora, no bairro Coronel Antonino, e a Fazenda Estaca, localizada na BR-163, km 501. Para retirar, é necessário que o comprador entre em contato com Gabrielle pelo número (67) 99320-4224 e combine um local e horário.

A expectativa da família é vender 150 marmitas, que custarão R$ 25 cada. A retirada começará às 11h30. O PIX é 032.399.871-20.

Fonte: Midiamax.

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