
A comitiva do governo federal que viria a Mato Grosso do Sul para vistoriar as obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN3), em Três Lagoas, cancelou a agenda. A expectativa local era de que o grupo anunciasse a estratégia de retomada da obra. No entanto, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que o cronograma só deve ser anunciado após a conclusão do plano estratégico da companhia.
Durante o lançamento da 2ª etapa da maior seleção pública socioambiental da história da estatal, na tarde de ontem, no Rio de Janeiro (RJ), Prates informou com exclusividade ao Correio do Estado que a retomada das obras da fábrica de fertilizantes dependerá do plano estratégico da empresa para 2024.
“Nós só vamos definir essa questão depois de o plano estratégico ser anunciado, o que está agendado para o fim deste mês e início do próximo, caso não aconteça nenhum contratempo. Nós vamos fazer uma reconfiguração de toda essa parte de fertilizantes depois do plano estratégico”, declarou.
O presidente da Petrobras deixou subentendido que a estatal pretende retomar as obras paradas em 2014 a partir do próximo ano, quando a paralisação completará dez anos. No entanto, ele explicou que tudo precisa ser muito bem planejado, para que a obra não seja paralisada novamente por falta de recursos.
A expectativa era de que, com a vinda do grupo ao Estado, fosse anunciado o esperado cronograma de conclusão da fábrica de fertilizantes. Com o cancelamento da agenda, mais uma vez a retomada da obra é adiada.
O deputado federal Vander Loubet (PT) afirmou ao Correio do Estado que acreditava que os planos estratégicos fossem anunciados durante a agenda em MS.
“Nossa expectativa era justamente essa, de que o presidente Jean Paul Prates, da Petrobras, anunciasse aqui em Mato Grosso do Sul o plano da empresa para a conclusão da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas”.
A comitiva que chegaria ao Estado hoje contava com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, da ministra do Planejamento, Simone Tebet, e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O governo do Estado informou o cancelamento da visita do grupo a Três Lagoas e Campo Grande.
“Em razão da incompatibilidade de agendas, os compromissos do vice-presidente, da ministra de Planejamento e Orçamento, do ministro de Minas e Energia e do presidente da Petrobras, em Mato Grosso do Sul, nesta quarta-feira, incluindo a vistoria técnica nas instalações da UFN3, em Três Lagoas, e o encontro com empresários, em Campo Grande, foram adiados. A nova data será comunicada tão logo haja confirmação e conciliação das agendas das autoridades acima mencionadas”, informou o governo do Estado em nota.

CRONOGRAMA
Conforme adiantou o Correio do Estado na edição de 27 de outubro, quanto maior a demora em se anunciar o investimento, maior o prazo para o início da produção dos fertilizantes em Mato Grosso do Sul.
O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, disse que a conclusão da obra parada desde 2014 deve levar pelo menos um ano e meio.
“Nós temos um compromisso técnico, político, que eles vão fazer isso [terminar a UFN3]. A partir do momento em que eles disserem que vão terminar, o tempo de obra é de um ano e meio”, explicou o secretário.
O secretário ainda afirmou que o governo do Estado tem um trabalho permanente, desde 2018, para tratar da conclusão da fábrica. E os avanços para que a obra finalmente seja finalizada começaram ainda no ano passado, com a criação do Plano Nacional de Fertilizantes.
“O que já aconteceu na gestão do presidente Lula é a definição estratégica da Petrobras de retornar para [a produção de] fertilizantes. Se a Petrobras não tomasse essa decisão, a UFN3 viraria um ativo e teria de ser negociada. O que precisa agora é aprovar o orçamento da UFN3. Eu entendo, inclusive, que, se a UFN3 não sair no governo do [Eduardo] Riedel, ela também não sairá mais”, concluiu Verruck.
A fábrica de Três Lagoas deve receber aporte de R$ 5 bilhões (US$ 1 bilhão) para a sua conclusão.
De acordo com os dados da Semadesc, no ano passado, foram importados 7,2 milhões de toneladas de ureia.
A produção anual da UFN3, quando estiver em pleno funcionamento, será de 1,3 milhão de toneladas de ureia, ou seja, 18,3% do total importado pelo País na época.
Ao se levar em conta outro fertilizante que será produzido na indústria de Três Lagoas, a amônia, foram importados 6,6 milhões de toneladas desse item em 2022. A produção anual da fábrica será de 0,8 milhão de toneladas de amônia, ou 12,1% do total. Portanto, considerando os dois fertilizantes citados, são 30,4% desses insumos que deixariam de ser comprados no exterior.
HISTÓRICO
A UFN3 começou a ser construída em 2011 e teve as obras paralisadas em 2014, após integrantes do consórcio serem envolvidos em denúncias de corrupção. Na época, a estrutura da indústria estava cerca de 80% concluída.
O processo de venda da UFN3 começou em 2018 e incluía a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada em Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.
No ano seguinte, a gigante russa de fertilizantes Acron havia fechado acordo para a compra da unidade, mas a crise boliviana impediu o negócio.
Em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou nova oportunidade de venda. As tratativas só foram retomadas no início do ano passado, com o mesmo grupo russo.
No dia 28 de abril de 2022, a petrolífera anunciou que a transação de venda da fábrica para o grupo Acron não havia sido concluída.
Ainda em 2022, a Petrobras relançou a venda da fábrica ao mercado. Em 24 de janeiro deste ano, a estatal anunciou o fim do processo de comercialização da indústria. Fonte: Correio do Estado.