Polícia

Deam erra ao indiciar irmão de jornalista ao invés de músico que a agrediu em Campo Grande

Deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB), que é tio da vítima, criticou a delegacia e revelou que a família foi surpreendida com a inversão de papéis

Vítima gravou vídeos logo após ser agredida. (Reprodução: Arquivo Pessoal)

A Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), unidade que atendeu o caso da jornalista, de 37 anos – agredida pelo companheiro e músico, de 38 anos – teria errado ao indiciar o irmão da vítima. A agressão ocorreu no último dia 3 deste mês e o músico foi preso em flagrante e encaminhado à Deam, em Campo Grande. Dias depois, o agressor foi liberado com tornozeleira eletrônica.

Na manhã desta quinta-feira (13), o deputado estadual Paulo Corrêa (PSDB), que é tio da vítima, criticou a delegacia e revelou que a família foi surpreendida com a inversão de papéis no registro do boletim de ocorrência.

Durante seu discurso na tribuna da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), o deputado contou que seu sobrinho, irmão da jornalista, foi até a especializada para relatar a agressão como informante, mas acabou sendo tratado como indiciado no registro da ocorrência.

O que diz o registro

Diante disso, a reportagem do Jornal Midiamax teve acesso ao auto de prisão e indiciamento. No documento consta o músico como preso e autor dos fatos. Entretanto, no termo de ratificação e indiciamento, consta a prisão em flagrante do irmão da jornalista por “lesão corporal dolosa em razão da condição do sexo feminino, no contexto da violência doméstica“.

Logo abaixo, menciona que o irmão da jornalista é indiciado pelo crime. Como justificativa, no documento é explicado que foi feita uma análise técnico jurídica do fato em razão do depoimento dos guardas municipais e declaração da vítima, que possui valor probatório relevante nas infrações cometidas em contexto doméstico. Ainda, a análise foi feita em razão do auto de constatação de lesão aparente e laudo de exame de corpo de delito realizado.

Delegada assinou o flagrante ‘errado’

Todas as peças do flagrante são assinadas pela delegada que ficou responsável pelo caso. Desta forma, com o erro nos documentos, a delegada seria responsável por verificar as peças antes de assinar.

A delegada em questão é a mesma que fez o primeiro atendimento à também jornalista Vanessa Ricarte. Vanessa foi vítima de feminicídio em 12 de fevereiro pelo ex-noivo Caio Nascimento.

Essa delegada não é a implicada nos áudios em que Vanessa retrata que foi mal atendida na delegacia. Após a prisão em flagrante do músico que agrediu a sobrinha de Paulo Corrêa na última semana, a autoridade policial deixou de arbitrar fiança ao preso. Por isso, entende-se que o indiciamento do irmão pode ter sido um erro da equipe que atendeu a ocorrência.

“A mesma delegada que atendeu o caso anterior [da Vanessa Ricarte], foi responsável por esse erro. Será desatenção ou não gosta de fazer o serviço? Saiu uma ordem de prisão, mandaram prender meu sobrinho e não o cara que bateu minha sobrinha”, revelou o deputado Paulo Corrêa.

A reportagem do Jornal Midiamax acionou a Polícia Civil acerca do indiciamento citado e aguarda um posicionamento. O espaço segue aberto para manifestações.

Músico foi liberado da prisão com tornozeleira eletrônica

O músico de 38 anos foi liberado na última terça-feira (11) com uso de tornozeleira e uma medida protetiva.

Na decisão, consta que o músico foi solto porque “apenas tentou se defender dos ataques verbais e físicos cometidos pela suposta vítima, não havendo qualquer ato que desabone sua conduta” e que também dificilmente o suspeito será condenado para cumprir pena em regime fechado. “Dada cominação em abstrato fixada para crimes domésticos e por ser primário, o que não justifica permanecer no cárcere aguardando o desfecho do processo crime”.

Com isso, o músico teve a soltura determinada e passará a ser monitorado por tornozeleira eletrônica. Além disso, ele está proibido de se aproximar da jornalista a menos de 200 metros de distância, mas terá assegurado o direito de visita e contato com a filha, que tem 8 meses.

Apesar de responder ao processo em liberdade, o músico está proibido de ausentar-se da comarca sem autorizar a Justiça previamente, deverá obrigatoriamente comparecer a todos os atos do inquérito e da eventual ação penal que for intimado e comparecer mensalmente em juízo para comprovar endereço atual, bem como informar e justificar suas atividades.

Quando preso pela polícia, ele alegou que estava retornando da casa de um amigo com a namorada, quando, dentro do carro, a vítima teria proferido xingamentos contra ele. Ainda, alegou que teria sido agredido enquanto dirigia o carro.

Na delegacia, ele também alegou que houve uma discussão ‘besta’ por ter passado em um desnível na rua e o carro ter sofrido um solavanco. Ainda, disse que ao deixar a jornalista em casa apenas fez menção de agredi-la com um empurrão, mas não fez e foi embora.

Contudo, a jornalista sofreu uma fratura no nariz e até gravou um vídeo após a agressão. Nas imagens, com a filha de 8 meses no colo, a vítima mostra o sangramento no nariz e relata a agressão sofrida.

Após seu interrogatório na delegacia, o músico se negou a assinar o documento. Conforme trecho do documento, ele se sentiu inseguro. “Se negou a assinar o interrogatório e as peças destes autos, pois se sentiu inseguro, e pretende assinar após conversar com um Defensor Público ou Advogado“, diz o documento.

‘É revoltante’

Após se deparar com a determinação de soltura do músico que lhe agrediu, a jornalista se diz revoltada. Segundo ela, não foi analisado sequer o conteúdo anexado em seu depoimento prestado na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). 

À reportagem do Jornal Midiamax, a jornalista enviou um vídeo gravado pouco depois da agressão. Nas imagens, ela está com sangramento no nariz e com a filha no colo, relatando a agressão sofrida. 

Agressão

O crime aconteceu há oito dias, na noite do dia 3 deste mês, quando o casal havia retornado da casa de um amigo. À polícia, a jornalista disse que estava no carro com o namorado e com a filha no colo dela, retornando para a residência.

Em determinado momento, já em casa, o músico teria passado a desferir golpes em seu rosto, depois deixou a vítima na residência e teria ido embora para a casa dele. 

Depois, a jornalista enviou mensagens no grupo da família pedindo ajuda, momento em que seu irmão e cunhada foram até o imóvel. Logo, eles foram até a frente do condomínio onde reside o músico. 

Fonte: Midiamax.

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